Era início do novo milênio quando o kitesurf fazia suas primeiras aparições no Brasil. No Ceará, Alexandre Rolim, conhecido como Mosquito, e a esposa, Vanessa Chastinet, dois dos precursores do esporte no Estado, “não sabiam muito bem o que era o esporte” quando se interessaram pela modalidade.
Como o vento modelou a relação entre o kitesurf e os mares do Ceará é o assunto tratado na primeira reportagem da série "Economia do Mar", que mostra como as praias atraem negócios e geram renda para o Estado.
O especial multimídia integra o projeto Praia é Vida, promovido pelo Sistema Verdes Mares com foco na valorização e na sustentabilidade desse meio indispensável para múltiplas formas de vida.
“Aprendemos do jeito mais engraçado possível, numa época em que o equipamento ainda aprontava um pouco. Era um aprendendo e ensinando para o outro”, lembra Vanessa.
Ela relata que o casal fez um curso profissionalizante e passou a dar aulas em 2004. Naquele ano, a região do Preá, no município de Cruz, no Ceará, ainda era “um lugar de passagem para os turistas”, que no máximo paravam para ver a lagoa.
“A gente começou a dar aulas, mas tínhamos que captar as pessoas em Jericoacoara. Íamos todos os dias nas pousadas explicar o kitesurf e voltávamos com um carro lotado de gente para o Preá. No primeiro ano era um, no segundo, dois carros, depois três”, diz Vanessa.
Com esse movimento, turistas mais afeitos ao kitesurf começaram a preferir o Preá. A região passou a oferecer mais opções de hospedagem e restaurantes. Paralelamente, Jericoacoara começou a “se agitar”, enquanto o Preá se mostrava mais desenhada para o perfil de quem gosta do esporte e da calmaria. “A gente é parcialmente responsável por esse movimento”, conta Vanessa.
Na vida de Vanessa e Mosquito, o kitesurf se tornou mais um elo com o mar. Eles não sabiam, até então, como o esporte evoluiria e transformaria a vida do casal, permitindo ainda que eles pudessem melhorar a vida de toda uma comunidade. Mais do que isso: que o esporte se daria tão bem com os mares e ventos do Ceará a ponto de transformar o turismo, engrenando investimentos e alavancando a economia do Estado.
Um dos membros dessa comunidade, Laerte Moises é instrutor de kite na escola de Mosquito e Vanessa. "Ser instrutor é uma experiência incrível, vivencio muitas sensações todos os dias, conheço pessoas novas e vejo a evolução delas".
Em 2006, nasceu o Rancho do Kite, escola de Mosquito e Vanessa. O negócio se tornou referência mundial entre os praticantes do esporte, juntamente com a região do Preá
UMA VIRADA DE CHAVE
Mas foi a partir de 2017, com a inauguração do Aeroporto de Jericoacoara, que a movimentação de turistas - e praticantes de kitesurf de vários lugares do mundo - se deu de forma mais intensa. Além disso, o Preá começou a ser visto por investidores (alguns apresentados à região a partir do kite) com outros olhos.
Aléxia Bergallo, diretora de Produto e Impacto do Grupo Carnaúba, entende bem o que é isso. O negócio nasceu a partir da paixão de Júlio Capua, CEO do grupo, pelo kitesurf e seu encantamento com o Preá. Ela própria também pratica a modalidade e criou uma relação especial com o lugar. “É muito difícil falar do nascimento do grupo sem o kite, porque o Júlio não teria vindo e voltado tantas vezes se não fosse o kite. Esse lugar é muito especial”, pontua Aléxia.